terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Ilha dos Amores - o Hino a Ponte de Lima e a sua história

Hino a Ponte de Lima

 Ilha dos Amores
 


     Os primeiros anos da minha vida activa decorreram na sede do concelho onde nasci, Ponte de Lima, e nos seus inesquecíveis arredores. Nos tempos livres, que ocupei quase sempre nos estudos e nas actividades culturais, deliciava-me a ouvir música, de que sempre fui apreciador, ainda que mau executante, e, nesses tempos em que não abundavam outros géneros de orquestras, dei comigo, por vezes, a apreciar esta ou aquela banda de música, nos mais desvairados sítios. Foi assim que me tornei amigo de Domingos Matos, ourives com estabelecimento na rua do Souto (agora nas competentes mãos do seu filho César), a quem não escapava uma única banda de música, que tivesse algum prestígio, fosse no coração da nossa vila ou no adro de um santuário ou de uma capela, em dia de festa, desde que ao local tivesse facilidades de acesso, o que na época não era assim tão fácil. Incipiente condutor de automóvel - nessa altura o número de tais veículos contava-se na sede do concelho pelos dedos da mão  ̶ , deu-me uma ou outra vez a honra da sua companhia.
     Certa vez, demos uma volta por Vigo e, pelo fim da tarde, fomos ter a Gondomar, nas proximidades de Baiona, onde, numa animada romaria popular actuava a Banda de Monção, regida pelo competente maestro e compositor Miguel Oliveira. Ficou este radiante ao saber que tinha dois limianos a escutá-lo e no intervalo apresentou-nos à comissão de festas como membros ̶  presidente e secretário ̶ da direcção da banda! Surpreendidos ̶ na primeira oportunidade, explicou-nos, em rápido à parte ser essa a razão da inesperada apresentação ̶ fomos logo convidados, sem direito a escusa, para jantar com o maestro e a comissão de festas. Depois do aprazível jantar, ouvimos de novo a actuação da banda e regressamos os dois, numa penosa viagem através de uma estrada de montanha inteiramente desconhecida, no meio do mais intenso nevoeiro, se não eram nuvens de baixa altitude, a tardias horas da noite...
Foi também por intermédio do amigo ourives que conheci o tenente coronel Amílcar Morais, que, além de ser exímio compositor e maestro  ̶  entre outras, dirigiu durante dez anos a Orquestra Ligeira do Exércitoera um acendrado amigo de Ponte de Lima. Domingos Matos confessou-me, em dada altura, que um dos maiores desejos de Amílcar Morais era o de compor um Hino a Ponte de Lima. Concordei que era uma bela ideia e que se devia entusiasmar o maestro a concretizá-la...
Um belo dia, Domingos Matos veio ter comigo: o compositor queria avançar com a obra, mas... faltava a letra para o Hino. Tinham conversado os dois, leram até poesias que eu tinha publicado no jornal, e propunham que fosse eu a fazer os versos. Fiquei engasgado, não disse que sim nem que não, mas que ia pensar no assunto, e que de qualquer modo não iria ser por falta da letra que Ponte de Lima deixaria de ter o seu hino... Pelo caminho fui pensando no assunto, mas não me considerava digno de fazer a letra para o Hino da minha terra. Se eu fosse um António Feijó... E, então, conforme seguia pela estrada, aparecia-me cada vez mais claro que o refrão ou a parte fixa do hino tinham de ser aquelas duas quadras do livro Ilha dos Amores, colocadas a um e outro lado do seu busto no monumento que lhe foi dedicado na vila de Ponte de Lima. E se o refrão fosse de António Feijó, os restantes versos também deviam ser do mesmo autor. As três quadras do poema Inverno que se seguem às duas escolhidas prestavam-se a servir para esse efeito, mas necessitava-se de mais algumas que se adequassem ao hino. Encontramo-las um pouco mais atrás no poema Domingo em Terra Alheia, do mesmo livro Ilha dos Amores. Mas havia algumas dificuldades, sobretudo porque, como sucede com uma grande parte dos poemas de António Feijó, a métrica não era inteiramente regular. Tive de lançar mão do cinzel para fazer uns pequenos arranjos, com o maior respeito possível ao espírito e à letra do nosso grande poeta.
Assim se conta como António Feijó, com quase um século de antecedência, com a nossa pequenaajuda”, escreveu os versos para o Hino a Ponte de Lima, a que se deu o mesmo título do livro de onde foram extraídos – Ilha dos Amores.
 
Em 1980, no Almanaque de Ponte de Lima, publicamo-lo pela primeira vez, na versão com acompanhamento para piano, depois reproduzida no Anunciador das Feiras Novas, em 1987. No Anunciador das Feiras Novas, em 2009, publicámos a partitura original para banda.

A Casa do Concelho de Ponte de Lima publicou recentemente um CD com este cântico de louvor à nossa terra entoado pelo Orfeão Limiano, com acompanhamento da Banda Sinfónica da P. S. P.