Ziguezague faz o rio,
ziguezague faz a serra.
Ziguezague, ziguezague,
oh que linda a minha terra!
PONTE DE LIMA nasceu do feliz encontro entre o homem e a natureza, de que resultou uma paisagem variada, repartida entre montanhas de moderada altitude e outeiros ou colinas rodeadas de encostas soalheiras e vales amenos, regados por córregos e levadas de água fresca, que confluem no rio Lima. Nasce este nas cercanias de Xinzo de Limia, na fonte do Talariño, situada nos contrafortes da serra de S. Mamede. Dirigindo-se para o sudoeste, vencido o rápido declive do curso intermédio, que podemos considerar terminado na foz do Vez, no decurso do qual encontra descanso em grandes albufeiras, torna-se mais regular após o último açude, em Refoios; começa aí a parte mais calma do percurso, encaminhando-se lentamente, a serpentear na planície, para os lados de Viana, até desaguar no Oceano.
Nos relevos culminantes que cercam a zona, perante os quais a sensação de altura não é demasiado acentuada pelo nível do rio, pouco acima do próprio mar, não há arestas que firam e nem sequer é chocante a nudez inesperada deste ou daquele bloco de granito que aflora aqui e além no meio de uma vegetação densa e luxuriante.
O vale do Estorãos abre-se entre a serra de Arga, de um lado, e do outro as serras de Formigoso
e Antelas. Entre a serra de Antelas e a da Miranda, situa-se o vale
alimentado pelo ribeiro da Labruja. Entre o monte de S. Lourenço, o
Oural e a Nó corre o Trovela. Entre a Nó e o monte da Facha está o vale
do rio Tinto. A estes espaços soma-se um outro, voltado a sul, para o
rio Neiva, no trecho que vai desde Anais até Ardegão e Poiares.
Todas estas paisagens foram já modificadas pelo homem, que arroteou campos, sobrepôs socalcos, plantou arvoredo e salpicou de cor com as habitações pintadas de branco, algumas vezes de ocre, e cobertas de telhas da cor do barro vermelho.
Uma rede emaranhada de estradas e caminhos atravessa as veigas e serpenteia pelas encostas. O eixo principal é constituído pela antiga via, no sentido norte-sul, que os romanos lajearam aqui e além, assinalando-a com marcos miliários e fazendo-a atravessar o Lima nessa ponte que deu origem e nome à povoação, que se tornou o polo aglutinador de todos os espaços circundantes.Sucederam-lhe as modernas vias de comunicação, a culminar na recente auto-estrada.
Para ter uma visão destes espaços e se compenetrar da índole, ao mesmo tempo cheia de viço natural e de humanidade, desta paisagem, é indispensável subir a algumas das estâncias panorâmicas que se espalham através do concelho.
Santa Maria Madalena, com o seu parque ajardinado, oferece-nos uma síntese majestosa de toda a ribeira Lima, até ao Oceano. Em baixo, o rio, coleante e vagaroso, acarinha a vila feiticeira; nas margens desdobra-se a característica paisagem limiana: prados, milheirais, vinhas, florestas; igrejas, capelinhas brancas, palacetes e singelos casais de aldeia.
Como delicioso lugar de paz, ao abrigo de sombra pacífica, onde não escasseia o ritmo gorgolejante da água fresca, a Senhora da Boa-Morte, um pouco acima dos templos românicos de S. Abdão e S. Tomé da Correlhã, oferece-nos, com o seu frondoso e repousante parque, outra perspectiva surpreendente das veigas limianas.
Santo Ovídio, acessível por uma estrada florestal, patenteia-nos uma soberba panorâmica da vila com as suas pontes e o casario a reverem-se no rio lendário.
No alto da Serra de Arga, cujo acesso obriga a ultrapassar os limites do concelho, desdobra-se, a perder de vista, o majestoso panorama dos vales e serranias do Minho e da Galiza.
Do cimo do monte de S. Silvestre, nas cercanias de Freixo, abarcam-se as terras situadas no vale do Neiva e seus arredores.
Acolhidos por esta paisagem, que se oferece tão viçosa e deslumbrante, iniciamos o percurso de um conjunto de itinerários, no tempo e no espaço, que nos ajudarão a conhecer melhor o concelho de Ponte de Lima.
Texto de António Matos Reis