terça-feira, 5 de julho de 2011

Para começar...

Ziguezague faz o rio,
ziguezague faz a serra.
Ziguezague, ziguezague,
oh que linda a minha terra!

     PONTE DE LIMA nasceu do fe­liz encontro entre o homem e a natureza, de que resultou uma paisa­gem variada, repartida en­tre montanhas de moderada altitude e outeiros ou colinas ro­deadas de encostas soalheiras e vales amenos, regados por cór­regos e levadas de água fresca, que confluem no rio Lima. Nasce este nas cercanias de Xinzo de Limia, na fonte do Talariño, si­tuada nos contrafortes da serra de S. Mamede. Dirigindo-se para o sudoeste, vencido o rápido de­clive do curso intermédio, que podemos considerar terminado na foz do Vez, no decurso do qual encontra descanso em grandes al­bufeiras, torna-se mais regular após o último açude, em Refoios; começa aí a parte mais calma do percurso, encaminhando-se lenta­mente, a serpentear na planície, para os lados de Viana, até desa­guar no Oceano.
     Nos relevos culminantes que cercam a zona, perante os quais a sensação de altura não é demasi­ado acentuada pelo nível do rio, pouco acima do próprio mar, não há arestas que firam e nem sequer é chocante a nudez ines­perada deste ou daquele bloco de granito que aflora aqui e além no meio de uma vegeta­ção densa e luxuriante. 
    O vale do Estorãos abre-se en­tre a serra de Arga, de um lado, e do outro as serras de Formigoso e Antelas. Entre a serra de Antelas e a da Miranda, situa-se o vale ali­mentado pelo ribeiro da Labruja. Entre o monte de S. Lourenço, o Oural e a Nó corre o Trovela. En­tre a Nó e o monte da Facha está o vale do rio Tinto. A estes espa­ços soma-se um outro, voltado a sul, para o rio Neiva, no trecho que vai desde Anais até Ardegão e Poiares.   
     

     Todas estas paisagens foram já modificadas pelo homem, que ar­roteou campos, sobrepôs socalcos, plantou arvoredo e salpi­cou de cor com as habitações pintadas de branco, algumas vezes de ocre, e cobertas de telhas da cor do barro vermelho.
     Uma rede emaranhada de es­tradas e caminhos atravessa as vei­gas e serpenteia pelas en­costas. O eixo principal é cons­tituído pela antiga via, no sentido norte-sul, que os romanos la­jearam aqui e além, assinalando-a com marcos miliários e fazendo-a atravessar o Lima nessa ponte que deu origem e nome à povoação, que se tornou o polo aglutinador de todos os espaços circundantes.Sucederam-lhe as modernas vias de comunicação, a culminar na recente auto-estrada.
     Para ter uma visão destes es­pa­ços e se compenetrar da ín­dole, ao mesmo tempo cheia de viço na­tural e de humanidade, desta paisagem, é indispensável subir a algumas das estâncias panorâmicas que se espalham através do con­celho.
     Santa Maria Madalena, com o seu parque ajardinado, oferece-nos uma síntese majestosa de toda a ribeira Lima, até ao Oceano. Em baixo, o rio, co­leante e vagaroso, acarinha a vila feiticeira; nas margens desdobra-se a característica paisagem limiana: pra­dos, milheirais, vinhas, florestas; igrejas, capelinhas brancas, pa­lace­tes e singelos casais de al­deia.
     Como delicioso lugar de paz, ao abrigo de sombra pacífica, onde não escasseia o ritmo gorgolejante da água fresca, a Senhora da Boa-Morte, um pouco acima dos tem­plos româ­nicos de S. Abdão e S. Tomé da Correlhã, oferece-nos, com o seu frondoso e repousante par­que, outra perspectiva sur­preen­dente das veigas limianas.
     Santo Ovídio, acessível por uma estrada florestal, patenteia-nos uma soberba panorâmica da vila com as suas pontes e o casario a reverem-se no rio len­dário.
     No alto da Serra de Arga, cujo acesso obriga a ultrapassar os limi­tes do concelho, desdobra-se, a perder de vista, o majes­toso pa­norama dos vales e ser­ranias do Minho e da Galiza.
     Do cimo do monte de S. Sil­ves­tre, nas cercanias de Freixo, abar­cam-se as terras situadas no vale do Neiva e seus arre­dores.
     Acolhidos por esta paisa­gem, que se oferece tão viçosa e deslumbrante, iniciamos o per­curso de um conjunto de iti­nerários, no tempo e no espaço, que nos ajudarão a conhe­cer melhor o concelho de Ponte de Lima.
 Texto de António Matos Reis